Provavelmente, em algum momento da sua vida, você já ouviu falar da expressão “deepfakes”. Na verdade, você muito provavelmente já deu de cara com algum deles enquanto navegava na Internet. Sabe aqueles vídeos super engraçados que trocam os rostos de alguma celebridade em um filme ou vídeo? Pois é. 

O deepfake é uma tecnologia que utiliza ferramentas de inteligência artificial e deep learning para reproduzir a aparência, a voz e as expressões faciais de pessoas reais para criar vídeos falsos, como no exemplo citado acima, substituindo os rostos de celebridades e políticos. E é daí que vem o nome: “deep”, de deep learning, método de análise e “aprendizado” de IAs, e “fake”, que significa falso. Ele funciona da seguinte maneira: o software é abastecido com imagens de referência da pessoa que será replicada no vídeo. Quanto mais imagens, melhor será a reprodução, pois a IA contará com diversas expressões faciais, ângulos do rosto e movimentos. Depois, um segundo indivíduo precisa gravar seus próprios movimentos, servindo como a base para a aplicação da tecnologia, que tem resultados aterrorizantemente realistas.

As vantagens

Uma tecnologia de Inteligência Artificial que te permite, basicamente, recriar a realidade, com simulações cada vez menos perceptíveis. Apesar de parecer parecer assustador (e, vamos concordar, até que é um pouco), o deepfake pode revolucionar o audiovisual, e criar jeitos totalmente novos de nos comunicarmos, nos aproximando da história e da arte de uma maneira nunca antes vista.

Além do já conhecido uso para rejuvenescer o visual, como em O Irlandês, filme concorrente ao Óscar 2020 de Melhor Filme, o deepfake também permite recriar facilmente a voz e as expressões desses atores, facilitando a produção cinematográfica em caso de imprevistos com o elenco durante as gravações, seja nos casos mais simples ou nos casos mais graves, como a morte de Paul Walker durante as gravações de Velozes e Furiosos.

Pasmem, é possível até mesmo trazer à vida e reproduzir a imagem daqueles que já não estão mais entre nós. No Museu Salvador Dalí, na Flórida, por exemplo, a tecnologia foi abastecida com mais de 5 mil frames de entrevistas do pintor surrealista para criar um deepfake em tamanho real, que citava diversas frases marcantes escritas pelo artista. Em outro caso, uma companhia Escocesa, a CereProq treinou sua inteligência artificial com áudios do falecido presidente estadunidense John F. Kennedy e, com isso, conseguiu recriar o áudio perdido de seu discurso em Dallas no dia em que foi assassinado. Surpreendente, não?

 

Demonstração do Deepfake do artista surrealista Salvador Dalí, em museu na Flórida,
explicando as etapas que levaram à sua criação e o seu funcionamento durante a exposição.

As desvantagens

Bom, como quase tudo que encontramos nesse vasto universo digital, o deepfake é uma faca de dois gumes. Muito além de todas as coisas incríveis que pode fazer, ele também pode ser usado de maneira negativa, e não é muito difícil de imaginar o porquê disso, principalmente onde o consumo de redes sociais e conteúdo multimídia é tão forte. Nesse contexto, poder manipular imagens tão livremente é uma ferramenta poderosa.

Essa tecnologia já se envolveu em polêmicas muito graves, como o incidente de 2017 em que um usuário do Reddit criou uma inteligência de artificial que analisava imagens de atrizes, modelos e cantoras para inserir seus rostos em filmes pornográficos. Isso alertou muitos internautas sobre os riscos do deepfake, que poderia usar a aparência de qualquer pessoa no mundo para criar, por exemplo, vídeos pornô falsos, os chamados “pornôs de vingança” e até para simular imagens de sequestro para pedir resgates.

Além disso, a tecnologia apresenta fortes implicações no que diz respeito à fake news, e pode se tornar uma forte ferramenta de manipulação de informações, de controle eleitoral, de disputa política, e como arma de difamação de figuras públicas. Ou seja: o deepfake possivelmente pode se tornar um método alarmante de chantagear, promover violência e distribuir desinformação em massa, visto que acreditamos facilmente em vídeos como algo “não manipulável”.

 

Neste vídeo, o BuzzFeed coloca o premiado diretor e roteirista Jordan Peele em um Deepfake
com o rosto do ex-presidente estadunidense Barack Obama, alertando aos internautas sobre os perigos dessa tecnologia.

 

É assustador e preocupante? Claro que sim. Por mais que a tecnologia avance, tanto as inteligências artificiais quando os humanos que a operam cometem erros. Então, cabe a nós a escolha de como tirar o melhor do que o essa nova ferramenta tem para oferecer, e claro, sempre nos mantendo atentos aos perigos que ela também oferece. Por isso, sempre confira antes de compartilhar, lembre-se de se informar por fontes confiáveis e fique muito atento nas redes sociais, afinal, com tantos filtros e vídeos que vemos no nosso feed, como saber o que é real e o que foi manipulado?