À essa altura do campeonato, as consequências trazidas pela pandemia do Coronavírus na nossa sociedade já são bem evidentes. Além da mudança de hábitos pela qual ainda estamos passando, a paralisação afetou diretamente vários setores da economia, que tiveram que parar suas atividades para prevenir o contágio. Como aglomerações se tornaram sinônimo de risco e o distanciamento social se mostrou uma obrigação, o mercado de eventos, sejam eles culturais, esportivos, ou profissionais, foi um dos primeiros impactados pela situação, encarando adiamentos, cancelamentos e redução brusca da demanda.

Por isso, diante deste cenário de isolamento social e poucas possibilidades de conquistar novos negócios, as agências encontraram nos eventos online uma alternativa importante para retomar a movimentação no setor. “O mercado ficou bem dividido, muita gente procurando informação, então foi um movimento de muita troca. Muitos profissionais do mercado começaram a fazer lives, criar conteúdos de blog, compartilhando informações para novas possibilidades de eventos online”, relata André Nicolau, diretor artístico e roteirista especializado em eventos.

Como são esses eventos?

Um evento online exige muita preparação e, com o movimento do mercado, surgiram diversas alternativas para que realmente funcionem de maneira eficiente. As transmissões podem ser feitas de duas formas: em servidor fechado, com acesso limitado por meio de algum link ou hotsite específico e acesso limitado, ou por meio de plataformas de amplo acesso, como as lives de YouTube e Instagram. Os formatos vão desde os mais simples, onde basta transmitir a imagem da câmera do celular da própria casa, até os mais complexos, que demandam maiores cuidados e uma produção mais rebuscada.

Muitos fornecedores de equipamentos audiovisuais, por exemplo, transformaram seus galpões em House Mix, uma estrutura feita para abrigar o sistema de sonorização, disponibilizando o material, o estúdio e a equipe técnica, adotando medidas de segurança e de saúde que vão desde os gestos mais simples de higiene até enfermeiros na porta para aferir febre e controlar o acesso de pessoas ao ambiente. Para o restante dos participantes e palestrantes, os sinais são transmitidos de suas casas, mas com equipes técnicas in loco, compostas de 2 ou 3 pessoas no máximo, preparadas para realizar a filmagem, preparar cenário e até para fornecer uma rede de internet mais adequada para evitar problemas na transmissão, sempre tomando todos os cuidados de prevenção. 

Quando bem feitos, os resultados deixam pouco a desejar em comparação com os eventos presenciais. Há eventos online com mestre de cerimônia, produção de alta qualidade, interação e, às vezes, até envio de lanches para a casa dos espectadores selecionados para que todos possam fazer um coffee break à distância. “A galera criou uma estrutura para fazer esses eventos online. Está rolando uma reinvenção muito interessante nesse sentido”, aponta André.

Por que fazer?

Apesar de estarmos muito mais acostumados com os eventos tradicionais, essa realidade hoje parece muito distante. Porém, os eventos online também trazem diversos benefícios que podem agregar tanto quanto os eventos presenciais, ou até mais. “Os eventos online são sim uma ótima opção. Aliás, acho que são a única opção para o momento falando de eventos. Funcionam muito bem, já aconteceram convenções grandes”, conta André. “Em tese, dependendo do que você for fazer, é mais barato do que o evento presencial e você pode ter muito mais facilmente, muito mais aceitavelmente, pessoas de qualquer lugar do globo”.

Enquanto os espaços físicos limitam o número de pessoas que você pode convidar para o seu evento, as plataformas online permitem acesso praticamente ilimitado e mais amplo, com pessoas de locais distantes, que antes nunca poderiam participar do seu evento.

Além disso, os canais online permitem o uso de ferramentas e aplicativos que estimulam a interação e convidam os espectadores a participarem de maneira muito mais fácil e intuitiva. E, mesmo com esses benefícios, os custos costumam ser mais baixos, já que o aluguel de espaços e serviços de A&B são muito menores, ou na maioria dos casos, até inexistentes, tornando os eventos online uma alternativa mais prática e barata.

Quais as dificuldades?

Apesar de todas essas vantagens, fazer eventos online ainda não é uma tarefa fácil. Um evento bem feito é algo hipercomplexo, seja ele presencial ou não, e, segundo André, a estrutura necessária muitas vezes não é simples. “Se você pegar uma empresa grande, que vai entrar um CEO para falar, os cuidados tem que ser tão grandes quanto, ou até maiores, que um evento presencial”, indica o diretor artístico. “Tem um trabalho de pré-produção muito grande, um cuidado de direção artística”. Um evento online demanda diversos elementos que, muitas vezes, passam despercebidos quando falamos de um evento presencial tradicional.

Quando todos estão distantes e a única ligação entre os participantes naquele momento é virtual, é necessário adotar outros cuidados para captar a atenção do público. Os roteiros precisarão ser mais elaborados, com uma linguagem voltada para a nova mídia e mais próxima da televisão, por exemplo, para cativar a audiência. A filmagem deve ser mais cuidadosa, e vai exigir mais câmeras para captar diferentes ângulos dos participantes, visto que, por conta do ambiente mais restrito, a movimentação dos cinegrafistas também fica comprometida. A questão visual também se torna mais relevante, já que, no palco, normalmente mais distante, os detalhes não são tão perceptíveis, mas em vídeo, a cenografia, a maquiagem, a iluminação e a parte estética exigem maior atenção.

Além disso, os sistemas de transmissão precisam estar preparados e seguros, com uma boa conexão de internet para evitar quedas de qualidade de imagem, desconexão de participantes e até a suspensão total do evento. Todos esses cuidados servem para tentar reduzir possíveis imprevistos, mesmos que esses sejam inevitáveis nesse novo contexto. “Tem que ter uma agilidade enorme para conduzir a coisa toda, uma flexibilidade e o conhecimento de eventos grandes, de palco, de backstage, de como lidar com imprevistos, porque vai acontecer bastante”, conta André. “O cliente tinha a sensação de querer controlar tudo, e agora é tudo menos controlável”.

Como vai ser no futuro?

Às vezes a pandemia parece que nunca vai acabar. Mesmo após tanto tempo em quarentena, ainda não temos uma previsão exata de quando poderemos retomar a nossa rotina e os nossos hábitos como sempre foram. Segundo André, muitas agências e fornecedores se prepararam tardiamente para trabalhar com os eventos online, e muitos estão trabalhando e investindo nas mesmas tecnologias para se manter ativos no mercado, com pouca gente se preparando para a volta dos eventos presenciais. “O mercado ainda não tem uma noção de quando as coisas vão realmente voltar ao normal, porque não existe essa previsão, então muitas agências começaram a se organizar para voltar para eventos presenciais só para o ano que vem”.

Enquanto os formatos digitais se aprimoram a cada dia para atender cada vez melhor essa demanda por eventos, as agências e produtoras de eventos precisarão se reinventar para não só voltar às atividades, mas também para atrair de volta um público que se tornou acostumado aos eventos online. “A expectativa é que por enquanto fique online, para a partir do ano que vem tenha essa divisão entre online e presencial. Quando você tiver o online muito bem feito, você vai precisar de muitas justificativas para juntar pessoas presencialmente”, finaliza.