A internet e as redes sociais são ferramentas poderosas. Elas podem reunir pessoas, espalhar informações em velocidades surpreendentes e são responsáveis por engajar milhões de pessoas diariamente em torno de diversos temas, discussões e memes. Porém, nos últimos dias, o assunto que dominou a internet infelizmente não foram as piadinhas e fotos engraçadas que tanto gostamos. Depois de episódios seguidos de violência policial evidenciados após o caso de George Floyd, um homem negro que foi brutalmente assassinado na cidade de Minneapolis por um policial branco que se ajoelhou em seu pescoço, diversos movimentos e protestos surgiram nos Estados Unidos e questões sobre racismo estrutural e conflitos raciais tomaram conta das mídias sociais, que resultaram no surgimento de várias discussões e campanhas em torno do tema, como foi o caso do famoso (e controverso) Blackout Tuesday. Mas como foi esse movimento?
O #Blackouttuesday
A #Blackouttuesday, ou “Blecaute de terça-feira” em tradução, foi uma campanha promovida inicialmente por agentes da indústria do entretenimento, liderada pelas executivas da música Jamila Thomas e Brianna Agyemang com o objetivo de chamar atenção para os protestos antirracistas que ocorrem em resposta ao assassinato de Floyd. A ideia era se abster de ações comerciais e publicações nas mídias digitais para gerar maior engajamento e visibilidade para a publicações voltadas aos protestos, ao Black Lives Matter, à artistas, pensadores e outras figuras importantes do movimento negro.
A repercussão
A aceitação por parte do público foi rápida, principalmente com a participação de agentes importantes das redes sociais, como músicos, empresas e influenciadores foi rápida, reunindo mais de 30 milhões de posts no Instagram sob as hashtags #BlackLivesMatter, #BlackoutTuesday e #Theshowmustbepaused, bem como suas variações em português, em que a maioria dos posts consistia em um quadrado preto, vazio e sem dizeres, para se posicionar contra a violência policial e demonstrar apoio à luta racial.
Porém, apesar da boa intenção dos usuários, a campanha acabou tomando outro rumo e atraiu fortes críticas na internet. Um dos principais problemas apontados foi de que os quadrados pretos publicados pela maioria dos internautas que participaram da campanha estavam, na verdade, atrapalhando o acesso à informações sobre os protestos e sobre o próprio movimento negro justamente em um momento em que essas tags haviam se tornado não só um espaço para divulgação de ideias e informações, mas para atualização dos principais acontecimentos das revoltas nos Estados Unidos.
Além disso, diversas marcas e influenciadores foram questionados pelo posicionamento nas mídias, que foi apontada por internautas como certo “oportunismo” por parte das empresas, questionando as estratégias reais de inclusão de minorias adotadas por elas. A revista Exame apontou que entre as 25 marcas mais valiosas do país nenhuma havia se manifestado sobre racismo ou violência policial, mas, no dia 2 de junho, o dia do Blackout Tuesday, se posicionaram por meio de posts nas redes sociais.
A demanda por uma nova postura
Com tantas discussões em torno do tema, qual a escolha a se fazer? Como se posicionar em um contexto tão complexo? A verdade é que esse momento demonstrou uma exigência por parte do público para que, além de apenas publicações em redes sociais, as empresas revejam suas posturas em relação à pautas sociais e repensem as suas políticas internas de inclusão. Entre as empresas que compõem as Fortune 500, ranking das 500 maiores empresas dos Estados Unidos de acordo com seu faturamento, apenas quatro têm presidentes negros.
Quando a questão é tão profunda quanto essa, apenas a aparência não foi suficiente. Os quadros pretos e as hashtags utilizadas pelas empresas acabaram repercutindo negativamente e, na prática, impactou muito pouco o contexto geral do debate. Assim como o racismo age nas estruturas da nossa sociedade, pensar em estratégias para preencher esse espaço tão negativo é o primeiro passo. É preciso autocrítica e análise do cenário atual e das possibilidades de contribuir de maneira eficiente com as mudanças. Diversas páginas relacionadas ao movimento negro, como o coletivo Batekoo, apontaram atitudes relevantes a serem tomadas por pessoas brancas para combater o racismo.
Estabelecer compromissos palpáveis com a sociedade, seja nos atos do cotidiano ou na criação de políticas de inclusão e divulgação do trabalho e das vozes de pessoas negras, é muito importante para que, passo a passo, seja possível construir um mundo mais igualitário. A lab212 se orgulha de ter uma equipe repleta de gente muito boa, de todas as cores, gêneros e sexualidades, mas entendemos que ainda há espaço para melhora. Seguiremos com esse compromisso, fazendo a nossa parte da melhor maneira que pudermos.
Como um primeiro passo, para engrandecer (e enegrecer) as nossas referências, listamos aqui – de acordo com sugestões dos labers – artistas, quadrinistas, fotógrafos, escritores e influenciadores negros que nos inspiram, em nosso cotidiano, a melhorar.
Achille Mbembe, filósofo, teórico político, historiador, intelectual e professor universitário
Adriel Bispo de Souza, criador do perfil Livros do Dri
Agnes Nunes, cantora
Akua Naru, cantora e rapper
Ana Paula Xongani, criadora de conteúdo, apresentadora de televisão e CEO
Andreza Delgado, uma das criadoras do Perifacon e criadora do Perifa Gamer
Angela Davis, professora e filósofa e membro dos Panteras Negras
Angélica Dass, artista e oradora pública
Artur Santoro, criador de conteúdo, palestrante e diretor de projetos da Batekoo
Baco Exu do Blues, cantor, compositor e rapper
bell hooks, autora, professora, teórica feminista, artista e ativista social
Brittany Howard, cantora e guitarrista
Carollina Lauriano, curadora independente e pesquisadora da arte
Carrie Mae Weems, artista e fotógrafa
Chimamanda Ngozi Adichie, feminista e escritora
Claudinei Roberto, curador independente
Conceição Evaristo, escritora
Deh Bastos, comunicadora e cofundadora do Criando Crianças Pretas
Diego Moraes, cantor e compositor
Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra, escritora e acadêmica brasileira
Djonga, escritor, compositor e rapper
Elisa Lucinda, poetisa, jornalista, escritora, cantora e atriz brasileira
Erykah Badu, cantora, compositora e produtora
Floyd Norman, escritor, animador e artista de quadrinhos
Gabriela de Matos, arquiteta urbanista, fundadora do Projeto Arquitetas Negras
Gilsons, trio musical de MPB formado pelo filho e por dois netos de Gilberto Gil
Grada Kilomba, escritora, psicóloga, teórica e artista interdisciplinar
Guilherme Soares Dias, editor, jornalista, empreendedor escritor do site Guia Negro
Helen Salomão, fotógrafa
Jarid Arraes, escritora, poetisa e cordelista
Jefferson Costa, ilustrador e quadrinista
Jefferson De, cineasta
Joice Berth, escritora, feminista e arquiteta
Jordan Peele, ator e cineasta
Jota Mombaça, escritora e artista visual
J.S. Ondara, guitarrista, compositor e intérprete
“Guitarrista, compositor e intérprete queniano apaixonado por Bob Dylan que largou tudo e foi para Minneapolis, terra natal do ídolo. Aprendeu a tocar e conseguiu se destacar no cenário musical. Ele canta a história do sonho dos imigrantes nos EUA e busca ser prova de que podem ter sucesso e ser valorizados” – Elisa Roque
Juh Almeida, fotógrafa e diretora de cinema
Juliana Colinas, fotógrafa e cantora
Kabengele Munanga, antropólogo e professor
Kabengele Munanga, hoje com 79 anos, escreveu obras incríveis que se tornaram referência para os estudos antropológicos e históricos a respeito da cultura afro-brasileira. Sua obra tem um tom politizado e nela discute temas como o racismo estrutural nas nossas relações sociais, o que é muito importante. No meio acadêmico, em que os temas são bastante eurocêntricos, seus livros protagonizaram os negros brasileiros e africanos. Por volta da década de 1970, realizou diversos estudos e contribuiu para contrapor a ideia de “democracia racial” no Brasil. Além de uma atuação incrível como pesquisador e professor, participou ativamente da vida política brasileira no período da redemocratização. Participou da discussão que incluiu o tema do racismo na Constituição de 1988” – Luna
Liniker, cantora e compositora
Linn da Quebrada, cantora, compositora, atriz e ativista social
Load Comics, criador de conteúdo, YouTuber e apresentador
Loic Koutana, performer, cantor e modelo
Luedji Luna, cantora e compositora
Lupita Nyong’o, atriz vencedora do Oscar
Magá Moura, blogueira e RP
Marcelo D’Salete, ilustrador, professor e quadrinista
Marianne Jean-Baptiste, atriz, cantora e compositora
“Eu gosto demais da Marianne Jean-Baptiste, que pra mim é uma das grandes atrizes negras que estão em atividade hoje e quase nunca é lembrada. Ela tem origem caribenha, canta, compõe, foi a primeira atriz britânica negra a ser indicada a um Oscar e é sensacional em tudo o que ela faz” – Diego Carrera
Matthew A. Cherry, diretor, escritor e produtor
MC Tha, cantora e compositora
MC Xuxu, cantora e compositora
Mestrinho, sanfoneiro
Musa Mattiuzzi, performer, escritora e artista
Nataly Neri, influenciadora, YouTuber e feminista negra
Nath Finanças, YouTuber, influenciadora e educadora financeira
Nicola Yoon, autor e escritor
No Martins, artista visual
“No Martins é um artista visual que começou seu movimento nas ruas da zona leste de São Paulo. Retrata em suas obras o cotidiano negro, a vida nas periferias e a violência policial. Participou de exposições nacionais e internacionais” – Amanda Felício
Pam Ribeiro, influenciadora, taróloga e poetisa
Rico Dalasam, cantor, compositor e rapper
“Rico Dalasam, é um cantor, compositor e rapper brasileiro. Um dos precursores no Brasil ao levantar a bandeira gay/drag/queer no rap, trazendo uma nova narrativa. Se apresenta como Dalasam, que é um acrônimo da frase ‘Disponho Armas Libertárias a Sonhos Antes Mutilados’. “Lançou um álbum chamado Orgunga, cujo título faz referência às palavras ‘orgulho, negro e gay’” – Fan Palandi
Rafael RG, artista e escritor
Rayman Boozer, designer de interiores
Rincon Sapiência, rapper, compositor e poeta
Roberta Camargo, jornalista
Rosa Luz, artista visual e rapper
Rosana Paulino, artista visual brasileira, educadora e curadora
“Rosana Paulino é uma das maiores referências da arte brasileira. Ela consegue ser certeira em usar da delicadeza para projetar temas pungentes. Pura potência. Além de ser referência por parte da vida acadêmica, me lembro muito do dia que eu e uma amiga resolvemos mandar um mensagem para ela para fazer uma entrevista, para um trabalho da faculdade de artes plásticas. Ela não só nos respondeu uma mensagem em rede social, como foi extremamente generosa de nos encontrar e muito disposta em compartilhar suas experiências. Com certeza, ela é muito mais que uma referência” – Beatriz Guimarães
Ryane Leão, poeta e escritora
Sant, compositor e rapper
Shani Varner, fotógrafo e diretor criativo
Sonia Guimarães, física, doutora e professora
“É primeira negra brasileira doutora em física pela University of Manchester Institute of Science and Technology, a primeira mulher a compor o corpo docente do ITA (+ de 20 anos), antes mesmo das mulheres serem aceitas no vestibular. Infelizmente não a conheço, mas certamente venceu muitas barreiras no meio acadêmico de exatas e dentro do militarismo” – Silvana Fortes
Stephanie Ribeiro, colunista, ativista e influenciadora
Steve McQueen, cineasta, produtor, fotógrafo e escultor
Suzane Jardim, historiadora e cientista social
Tássia Reis, rapper, cantora e compositora
Terry Crews, ator, comediante e ilustrador
Túlio Custódio, sociólogo e curador de conhecimento
Viola Davis, atriz e produtora
Xênia França, cantora e compositora
Yasmin Thayná, cineasta, roteirista e diretora
Yuri Marçal, ator, humorista e influenciador
Zezé Motta, cantora e atriz