“Roi! Leticia, né?”
Se você usa as redes sociais diariamente, é possível dizer com certeza que você já deu de cara com o TikTok, a mais nova febre da internet. Seja pelo seu feed, por recomendações de amigos ou até por anúncios em vídeos no YouTube, uma coisa é certa: se você está na internet, é quase impossível fugir dessa novidade.
O aplicativo, criado pela gigantesca startup chinesa ByteDance, surgiu em 2017 em uma fusão entre dois outros apps super populares, o Douyin e o Musical.ly, mas recentemente, em 2020, teve um crescimento surpreendente de popularidade, tornando-se, inclusive, um dos aplicativos mais baixados do mundo nos últimos meses, principalmente durante a quarentena, com mais de 1 bilhão de downloads na Play Store, sendo mais de 334 milhões de instalações apenas entre os meses de março e maio segundo a Sensor Tower. Com isso, a plataforma, hoje disponível em mais de 155 países, ultrapassou gigantes como o WhatsApp, a Netflix e o Zoom, que também registrou um enorme crescimento devido à necessidade de home office por conta da pandemia.
A popularidade foi tanta, que não demorou para os vídeos da plataforma começarem a viralizar incontrolavelmente, sendo replicados diversas vezes em outras redes sociais, como nos stories do Instagram ou em posts do Facebook e Twitter, conquistando ainda mais público, principalmente jovens entre 16 e 24 anos, que representam 41% dos usuários, atraindo personalidades e influenciadores digitais e até mesmo criando suas próprias celebridades e tendências virtuais. O sucesso surpreendente da plataforma fez até com que o Facebook enfim se mobilizasse e criasse a sua própria ferramenta para competir, o Instagram Reels, que mesmo fazendo certo sucesso, ainda está muito longe de atingir o TikTok.
Como funciona?
A proposta do aplicativo é bem simples, girando em torno da produção e compartilhamento de vídeos curtos, entre 15 e 60 segundos. Diferente do Instagram, que segue um formato quadrado, e do YouTube, que conta com vídeos horizontais em grande maioria, os vídeos do TikTok seguem um formato vertical alto, que ocupa quase toda a tela sem que o usuário tenha que virar o celular. A navegação é feita por meio de rolagem, como em qualquer feed de rede social, e as postagens são organizadas principalmente por meio de hashtags.
Os criadores de vídeo contam com um vasto arsenal de ferramentas para suas produções: filtros, busca por áudios, funções de texto e outras ferramentas para manipulação de sons e imagens. Todas essas funcionalidades são aplicadas para fazer dublagens de outros vídeos, para danças, vídeos engraçados, interações, “duetos” e respostas entre os usuários, e os populares desafios, que se tornaram fortes tendências nas redes sociais. Um bom exemplo é a música brega-funk “Tudo OK”, de Thiaguinho MT e Mila, que bombou no TikTok por meio de um desafio que gerou milhares de novos vídeos.
Outras grandes figuras da música também passaram a enxergar o aplicativo como uma importante ferramenta para impulsionar o sucesso de um single, fazendo com que cheguem ao Hot 100 da Billboard, como é o caso da música “Say So”, da Doja Cat, e de um dos maiores sucessos musicais de 2019, “Old Town Road”, de Lil Nas X, que depois do #YeehawChallenge, onde as pessoas se vestiam como caubóis ao som do rap, conquistou o primeiro lugar da lista, permanecendo lá por 19 semanas seguidas. Outro bom exemplo é o single “Toosie Slide”, do rapper Drake, lançada com o único propósito de se tornar o novo viral do TikTok. O cantor ensina os passos de dança para o desafio na própria letra e clipe da música.
Por que faz tanto sucesso?
O potencial viral do TikTok pode ser explicado de diversas maneiras. Primeiro, assim como os Vines, o tamanho curto dos vídeos e o próprio formato da produção torna o conteúdo ágil, atrativo e fácil de ser replicado em qualquer rede social, atraindo cada vez mais público. O próprio algoritmo do TikTok permite que qualquer conteúdo atinja milhares de pessoas independente do número de seguidores do seu perfil, pois leva em conta, principalmente as interações individuais de cada vídeo, acima do perfil como um todo.
Inicialmente, quando publicados, os vídeos do TikTok geralmente são exibidos para usuários da mesma geolocalização do produtor. Depois, seguindo indicadores como reexibições, conclusões de vídeo, compartilhamentos, comentários e curtidas, o vídeo passa a ser distribuído com maior alcance, se desvinculando da localização. Essa lógica de publicação e divulgação de conteúdo, impulsionada pelos algoritmos influenciada e organizada pelas hashtags, facilmente replicável e que convida os chamados “TikTokers” a responderem, replicarem e participarem dos desafios é uma das principais forças do aplicativo.
Hoje, no Brasil, quase 10 milhões de vídeos são criados diariamente na plataforma, entre danças, montagens sketchs de humor e dublagens. Por exemplo, quantas vezes já não assistimos dublagens e remakes com o áudio da Cabeleleila Leila? O meme, criado pelo humorista Eduardo Sterblitch, foi replicado tantas vezes que sua origem até se perdeu no meio do caminho, e muitas pessoas acreditaram ser um comercial de verdade. A criatividade surge do público, o engajamento ocorre de maneira natural e qualquer pessoa ou vídeo, tem o potencial para se tornar o novo viral do dia.
Como as marcas podem aproveitar?
Depois de tanto sucesso nos últimos meses, é impossível não ficar atraído pelo potencial do TikTok. O aplicativo é uma ótima plataforma para criação de conteúdo de marca, o chamado “Branded Content”, realizando parcerias com influenciadores super populares, trabalhando com a alta exposição e facilidade de reprodução do conteúdo, promovendo o engajamento e criando hashtags que podem se tornar a nova tendência do momento. O próprio TikTok disponibiliza a função “TikTok Ads”, uma plataforma exclusiva voltada para anúncios, permitindo segmentação do público, anúncios pagos entre vídeos e hashtags patrocinadas que podem impulsionar sua imagem para milhares de usuários.
Além disso, grandes marcas já aproveitam o aplicativo para criar suas próprias campanhas de conteúdo, fortalecendo a marca e ocupando mais espaço na rede social, como é o caso das campanhas “Nike Stop at Nothing”, que, em parceria com atletas e influenciadores do TikTok, criou desafios de dança baseados em esportes, aproveitando o engajamento para impulsionar a prática esportiva entre o público feminino de Milão, na Itália, país onde atletas mulheres são constantemente invisibilizadas. No caso específico da cidade italiana, mais de 55% das mulheres entre 14 e 24 anos não praticam nenhum esporte. Com isso, a Nike conquistou mais de 100 milhões de visualizações, mais de 540 mil likes nos desafios e levou as atletas envolvidas na campanha para a primeira página dos jornais da cidade.
Outro case de sucesso é a #InMyDenin, criada pela Guess para promover sua nova linha de roupas, incentivando a comunidade do TikTok à postarem vídeos com jeans da marca ao som da música “I’m a Mess”, de Bebe Rexha. Em 6 dias ocupando a tela inicial do aplicativo e com o apoio de 4 influenciadores, a campanha atingiu a marca de mais de 5 mil vídeos criados por usuários, mais de 10 milhões de visualizações e 12 mil novos seguidores em sua conta no TikTok.
As possibilidades são tão variadas que até mesmo o jornal americano Washington Post tem aproveitado o aplicativo para publicar vídeos engraçados, receitas e todo o tipo de conteúdo, buscando atingir um público mais jovem com o novo formato, e já conta com mais de 500 mil seguidores e mais de 23 milhões de curtidas em seu perfil.
No fim das contas, o TikTok funciona com um ótimo exemplo do potencial do marketing de conteúdo, e como uma plataforma simples, voltada para o usuário pode ser capaz de ditar as principais tendências do mundo digital. É impossível dizer o quanto a febre ainda vai durar e qual vai ser o futuro do TikTok, mas por agora, é muito importante ficar atento às novidades do aplicativo. Afinal, é de lá que as principais sensações do momento estão surgindo.